novembro 25, 2011

Por que isso não é uma crônica

Maldita a hora em que disseram: você sabe escrever! A exclamação me veio como um segundo parto, reabri os olhos como a primeira vez. Ninguém avisou que escrever é sangrar as linhas no papel; que é pintar quadros para então abandoná-los à lixeira. Ninguém prepara para as várias noites insones que são tiquetaqueadas pela madrugada; ou ainda, ninguém te prepara para a sensação de formigamento que percorre a pele, que arranca suspiros frustrados a cada vírgula, sons guturais do fundo da alma.

Quem dera se nesse contexto, algum qualquer me avisasse sobre o que viria. Quem dera a crônica que aqui chegou fosse fácil, quem me dera alertassem sobre seu mau gênio! Nada dócil, como a poesia, ou amadurecida, como o romance. A crônica é moleca, peralta - pinta, borda e brinca por entre as linhas que não me deixa escrever.

Talvez alguém pudesse me ensinar, pensei. Doce ilusão, sorriu em seguida. Sempre desconfiei que a crônica não se entregaria fácil - é dela a arte de beijar o rosto para sair correndo, cruzar a mente num passo apressado, fugir entre as esquinas do pensamento, deixar meu coração descompassado. De um piscar, evaporou-se.

A crônica é a minha velhaca, com alma de criança eterna. É aquela que me seduz, mas não é e nunca será minha. É a amante ideal para estas linhas, mas também o irritante motivo desse desabafo.


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Para "Oficina de Texto 3", 08/11/2011

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