novembro 26, 2011

Hmm, arrãn e derivados


[RELATO DE REPÓRTER

Sempre tive uma dificuldade absurda de conversar com as pessoas pela primeira vez, e para quem quer ser jornalista este é um problema muito óbvio. Pois bem – estava sem pauta no centro da cidade, sem a menor idéia do que fazer, com apenas uma tarde para apurar e escrever, além de extremamente frustrada com as últimas tentativas de entrevista. Explico.

A primeira ocorreu no sábado, 12, quando visitei a reserva indígena do Saji com uma colega de classe. Como a pauta original não era minha, o maior desafio era encontrar um personagem que não repetisse o trabalho da minha amiga. Indicaram um escultor que tinha tudo para render uma ótima entrevista, mas quando consegui encontrar o homem nossa conversa não rendeu mais que alguns ‘arrãns’. Só pude conversar por 20 minutos, pois já era hora de voltar para Natal. Um retorno sem personagem nas mãos.

A segunda foi na tarde da quarta, dia anterior ao deadline, na Cidade Alta. Resolvi entrevistar um engraxate que trabalha em frente ao Banco do Brasil. Comecei a achar que o problema era comigo, pois o episódio das onomatopéias se repetia. Nada além de ‘hmmm’ e ‘arrãn’. 

Resolvi continuar a busca – minha procura ingênua por algum anônimo que, de súbito, resolvesse me confidenciar a própria história. Não deu. Foi quando percebi que estava procurando da maneira errada novamente, fazendo previsões quando só precisava observar. E assim encontrei seu Manoel, em meio a essas andanças pelo centro. Talvez fosse só meu desespero para conseguir alguma pauta. Não tenho certeza. Sei apenas que passei a tarde ouvindo história de uma Natal de tempos há muito idos, com o cheiro de cigarro e café de uma banca humilde, perdida no meio da cidade. Provando suspiros e, hmmmm, suspirando pelo meu personagem. Ouvindo histórias que, de primeira, não pareciam nada de especial, mas que de alguma forma mereciam ser contadas.
Seu Manoel, 83 anos e meio século de um casamento longo e feliz com o jogo do bicho.

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