março 31, 2011

Eu?



Olho para esse tal espelho, e ainda que veja a imagem refletida, não consigo defini-la. São dois olhos vestidos num óculos, um sorriso, um corpo. Procuro a tão falada singularidade, mas sei que esta não é visível.
Sei o que não gosto, e isso já ilumina alguma coisa. Sei que sou incapaz de estar diante de uma câmera sem sentir uma tremedeira incontrolável. Sei que jamais irei entender a lógica do "impedimento"  nas regras do futebol. Sei que sou calada demais, arrogante ou introspectiva para uma grande maioria, e embora estejam em parte certos, sei que isso ainda não me define por completo.
Sei que gosto de muita coisa, mas que nem tudo cabe nesse pedaço de papel, e que a maioria até se perde na memória. Sei que gosto de escrever poesia, mas não de declamá-la - prefiro deixá-las na segurança do fundo da gaveta. Sei que me identifico muito com Veríssimo e seu famoso vício de ler - "uma dependência patológica da palavra impressa". Na falta, saio lendo até pote de margarina.
Tenho essa mania de papel que ainda não entendi. Gosto daquele cheiro de livro novo e uma atração por colecionar cadernos. Sou cinéfila, e pra quem é estudante, isso é realmente um problema. Sou solitária? Meio rabugenta. Não aceito críticas tão facilmente, embora a autocrítica me caia bem.
Tenho mais paciência com animais, do que para curtir uma festa. Prefiro encontrar os amigos num lugar mais reservado: de preferência embaixo de uma árvore. Gosto de rir, mas sou chorona. Tenho preguiça de conversar. Não sei lidar muito bem com os maniqueísmos da vida.
Gosto de rock, mas não o clássico. A melhor música ainda é o som das ondas na praia. Gosto de viajar enquanto volto para casa de ônibus. Prefiro um dia cheio ao invés de relaxar - mesmo que me balançar numa rede seja um prazer escondido. Gosto dos balanços que me lembram a infância.
Gosto das antigas máquinas de datilografar, pois me lembrar um tempo que adoraria ter vivido. Queria ser parte de uma fotografia em preto e branco, por vezes.
Sinto que escrever é a única coisa que me faz bem, não me importo como julguem minha aptidão. Sei que estou viva, e essa é a única certeza que tirei da vida até agora.

Um comentário:

Anônimo disse...

Influência das últimas aulas de Psicologia né?

Me identifiquei em várias passagens, como:
'Gosto daquele cheiro de livro novo e uma atração por colecionar cadernos. Sou cinéfila, e pra quem é estudante, isso é realmente um problema."

Belo texto.

Quem sou eu

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Poetisa que não declama e Jornalista nas horas vagas.